Ser Fisioterapeuta Kastelo é quebrar paradigmas, é pensar
fora da caixa. Isso significa entender que as crianças são especiais e como tal
precisam de sentir, vivenciar e explorar as coisas maravilhosas da vida; O sol
a aquecer o corpo, o vento a passar os agasalhos, a água a penetrar os poros da
pele, as gargalhadas, os abraços e a segurança de um colinho, são essas as
coisas maravilhosas da vida e o que não falta no nosso lugar mágico.
Ser Kastelo é fazer que todos entendam que diagnóstico não é
destino, muito menos sentença... é só porque nisto da saúde tem que se dar um
nome a tudo e, por vezes, cai-se no erro de achar que só porque tem o mesmo
nome tem que ter o mesmo fado. Ora aqui no Kastelo há muito se percebeu que
apesar de sermos muito idênticos todos aspiramos a coisas diferentes e não
vamos deixar que um rótulo nos defina, porque além disso existe tanta coisa que
esses senhores que dão nomes ás coisas ainda não sabem. E sabem uma coisa? Aqui
que ninguém nos ouve, nem sabem o prazer que nos dá quando mostramos a esses
senhores que apesar de nos terem dado um destino à partida nós arranjamos
maneira de o re-inventar.
Aqui no Kastelo não se espera por milagres, porque isso é
uma chatice que não depende muito de nós,
portanto preferimos a Esperança, isso sim! A Esperança dá-nos um
caminho, dá-nos força para andar todos os dias um bocadinho mais e fazer e ser
melhor. A Esperança não nos deixa baixar os braços, nem cair de joelhos,
faz-nos acreditar que o melhor está para vir e que ainda que existam abalos nós
somos mais fortes que isso e temos a capacidade de nos transcender.
Ser Kastelo é termos a humildade de nos baixarmos perante
estas crianças, estas famílias e aprendermos com elas, é perceber o quão
pequeninos somos e quanta mesquinhez deixamos que caiba na nossa vida. Ser
Kastelo é dar um braço a torcer e os dois a ajudar, é tirar pedras do sapato.
Ser Kastelo é ser Vida e deixar-nos levar pela “Laurilinha”
que se não tem amigos depressa os arranja;
é saber que a todo o momento “é hora (por isso) chama um amigo para
brincar, chama um amigo para jogar”; é uma fatiota bonita e um cabelo ao vento;
é espirrar com muita força; é dar abraços com a força do Mundo; é começar a
falar e nunca mais parar; é querer ser bombeiro e salvar vidas; é dizer tudo sem
nada dizer; é rir só de parvoíces; é dar gargalhadas tão grandes que nos
confundem porque não temos essa capacidade; é poder ser levado numa mão; é
andar tempos sem fim; é pedir colinho sem medo de o receber.
“Quase tudo me faz sonhar, que esquisito. Às vezes parece-me que
sou uma nuvem com raízes, sempre a partir e a ficar. Não abandono os sítios de
que me fui embora, coloquei a alma, escondida, sob cada objeto…Lembro-me dos
patos, dos coelhos, de ser tão feliz, lembro-me de tudo. Não esqueci nada, não
vou esquecer nada... Certos perfumes nos corredores, as conversas cheias de
palavras desconhecidas dos adultos, ajudar à festa, a dor dos outros, que
invariavelmente me aflige, o padre engraçado...Vidas pequeninas que eu não
compreendia. A profunda solidão das pessoas. O meu espanto diante das criaturas
amargas. Entendo a tristeza… não entendo a amargura, o azedume, a avidez. Nem a
antipatia, nem a inveja, nem a vaidade…Agora veio-me à cabeça um amigo meu,
Frei Bento Domingues.
Um dia disse-lhe:
-
Estás sempre tão alegre...
Ele respondeu
- O que podia ser eu senão alegre?”.
António Lobo Antunes “Croniquinha” [adapt.]
Luís Santos
Fisioterapeuta Kastelo
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